um texto de Clóvis Loureiro.
"A linguagem da fotografia é a linguagem do ver. Do visto. O que, afinal, um fotógrafo expressa é o seu modo de ver o mundo. E podemos ver com mais ou menos inteligência, com mais ou menos sensibilidade, com mais ou menos originalidade, mais ou menos espontaneidade.
Ver é um ato intencional e criativo, exige vontade e motivação interior. Geralmente os fotógrafos são pessoas que se deleitam com o ver. Ver com profundidade significa compreender.
Alguém caminha por uma ampla calçada à beira-mar, numa tarde serena. De repente, vê à sua frente um banco vazio, umas pedras emergindo da água e uma pequena árvore seca que, desde o ponto de vista em que se encontra, estão harmoniosamente dispostas no espaço. Ele compreende que aquela imagem é ele mesmo naquele momento, é aquela tarde, é aquela experiência. Isto é a fotografia. A experiência pode adquirir graus cada vez maiores de complexidade, ou pode ser simples como um sorriso. E desta maneira variam as fotografias.
Então tudo o que temos a fazer é, basicamente, desenvolver a nossa observação, afirmar a nossa atenção. É graças à curiosidade, à observação minuciosa e uma certa engenhosidade no olhar que se chega à percepção de imagens significativas. Estar alerta é importante. Estar presente. Se estamos perdidos em pensamentos, a realidade (pelo menos a visível) se nos escapa dos olhos. E da câmera. A fotografia é enfim a testemunha da qualidade do nosso ver.
Não vemos, porém, apenas com os nossos olhos. Podemos fazê-lo com a totalidade do nosso ser. Ver é sempre dinâmico. Reconhece e descobre objetos. Cria relações e atribui significados. Projeta nossas fantasias, evoca nossos sentimentos e provoca reações. Reagimos: fotografamos.
A cada maneira de ver corresponde uma linguagem fotográfica, e a parte a limitação da necessidade do mundo se manifestar à nossa frente, suficientemente iluminado, para que o fotografemos, não há limites para a linguagem fotográfica. Sempre inventamos novas maneiras de ver.
A fotografia nasce da capacidade de maravilharmo-nos, de encontrar sentido, de deixarmo-nos tocar por aquilo que vemos. Como já afirmaram muitos fotógrafos não há nada a fazer, a não ser estar presente, estar aberto ao mundo sentir-se implicado com aquilo que se vê.
Fotografia é imagem. Mas não apenas. Ela é o tempo detido, é a memória. É a evidência da luz que incidiu sobre um objeto específico, num lugar específico, num momento específico. Se por um lado isto soa como uma limitação, por outro é o próprio mistério da fotografia. Aquilo que vemos numa foto aconteceu. Às vezes de uma maneira que não sabemos como ou porque a fotografia não explica. Mas aqueles objetos e pessoas que se gravaram sobre o filme e hoje são imagens, ontem existiram. É isto que estimula nossa imaginação.
Fotografia é a linguagem do inesperado, boas fotografias não acontecem toda hora. A fotografia é um encontro. Eis o seu sabor. Um encontro entre o fotógrafo e o momento. Uma cena e o seu reconhecimento. A fotografia trabalha com o acaso e se vale da intuição. Assim se realiza o encontro .
Tudo o que queremos ao tirar fotografias é compartilhar nossa visão do mundo e nossa sensibilidade à vida como os outros. É como dizer: olha só aquilo! E aí está todo o significado. Não há mais nada a explicar. Nada a acrescentar. O resto é por conta de quem observa a fotografia.
Num mundo tão inflacionado de imagens, a maioria delas arrogantes e fetichistas, quando não simplesmente sensacionalistas, por que não nos abrirmos àquelas fotografias sensíveis e reveladoras, cheias de autenticidade de quem se sente comprometido com a vida?"
dublê de fotógrafa
terça-feira, 5 de agosto de 2008
segunda-feira, 21 de julho de 2008
DESCOBERTAS ...
arquitetura como escolha de vida, profissional ...
fotografia como uma paixão, devastadora ...
descobrir, a cada dia, novas maneiras de olhar se torna um vício!
um olhar, um momento, uma ação ...
através deste blog quero compartilhar minhas experiências nessa área.
muito mais empíricas do que técnicas, pois nada substituiu a sensibilidade ...
fotografia como uma paixão, devastadora ...
descobrir, a cada dia, novas maneiras de olhar se torna um vício!
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